Frank Franklin


Franklin começou na música estudando piano dos 8 aos dez anos. Mais tarde estreou em palcos em um festival (FICA - Festival da Canção Anchietana)como cantor de uma banda chamada ARMAGEDDON (1985), depois participou da Primavera nos Dentes(92), Os Ordinários (95), Sindicato do Blues (1997) quando partiu para carreira solo e gravou o disco "A mesma coisa", com algumas músicas suas e outras compostas em parceria com amigos.

Franklin é um músico versátil, emocionado, e letrista preocupado com poesia, com métrica. Suas letras podem ás vezes parecer indecifráveis, em outras até decifráveis demais. Franklin produziu o disco de Zé do Bêlo, chamado simplesmente de "Acústico", lançou um jornal sobre música chamado "Portoblues", que agora é um programa de tevê que vai ao ar na madrugada de segunda feira no canal comunitário da NET em POA, o POA TV Canal 6.

Durante sua vida de músico e de jornalista, Franklin fez shows e deu canjas por diversos lugares: Porto Alegre, Montenegro, Pelotas, Sapiranga, Caxias do Sul, Florianópolis... e trabalhou em jornais como Usina do Porto e Portoblues. Franklin também colabora com a John Bull Magazine, a revista do John Bull. Em 97 Franklin participou do disco "Agora pode ser o Tempo Todo", de Egisto Dal Santo, tocando bandolim em uma vinheta composta pelos dois, "Matou" e narrando um gol para um solo em "Deu praTi", de Kleyton e Kledir.

Franklin é responsável pela produção executiva do disco "Acústico", o primeiro do cantor e compositor Zé do Bêlo. Jornalista e radialista com formação técnica e acadêmica, Franklin em 2008 tornou-se operador de áudio com especialização em mixagem de P.A, tendo completado o curso no Colégio de Aprendizagem Moderna, o CAM.

"Quando me formei em Jornalismo entrei para uma banda de bicho grilos paz e amor chamada PRIMAVERA nos DENTES, mas que começou como ÓRFAOS do BLUES. Esta banda tinha uma menina na bateria, o que era raríssimo (Márcia Haesbert, hoje artista plástica) e também fez um show na TERREIRA dA TRIBO e foi só!! Nós ensaiávamos no ARAÚJO VIANNA em um estúdio público horrível. Isto foi em 91, 92. Comecei a gostar de blues e ficar até obcecado. Comecei a aprender a tocar blues.

Em 1994 um barzinho chamado Hooker me deu chance de fazer shows bem legais, e o público adorava...Em 1995 surgiu OS ORDINÁRIOS (Régis Sam, Amilson Silva, Marcelo Moreira e Frank), que gravou uma fita demo e fez alguns shows. Toquei também no Bananas Bar e no Megazine, sendo um dos recordes de público do bar.

Em 1996 surge o Sindicato do Blues, com uma fita K7 chamada LAMA, MESA & BLUES, muito bem gravada no estúdio B da ACIT, que vendeu uns duzentos exemplares. A fita tinha alguns clássicos do blues misturadas com instrumentais obscuros como Funny Bone e Old Time Sake, de Freddye King. O grande destaque da banda sempre foi o virtuosismo de Gabriel Guedes, que eu considero um dos guitarristas mais competentes que eu já vi tocar.

Acho que o Sindicato do Blues foi a minha primeira banda que tocou de verdade o blues, pelo Sindicato passaram ubs trinta músicos, todos super músicos, ex: Gabriel Guedes, Marcelo Moreira, Alexandre Baréa, Bibo, Cristiano Bertolucci, Daniel Mossmann. Nós fizemos uns quinze shows muito bons e fizemos uma certa fama por tocar músicas descomnhecidas de muitos, inclusive muitas em português, como por exemplo, o blues chorado Sofre, de Tim Maia e Estrada de Santos, de Roberto. Tocamos no Estação e na Garagem Hermética, no João e no 14 Bis em Ipanema.

Depois em 98 o Sindicato se desintegrou, mas três de seus integrantes, Costa, Gabriel e Daniel se juntaram ao baixista Bibo e Luciano Lucke e formaram uma das melhores bandas de blues rock de toda a história do rock e blues portoalegrense.

Como ia dizendo, estudei piano cerca de dois anos na pré adolescência, o que foi um alicerce para eu conhecer a estrutura da música. Estudando piano você descobre, não na hora, mas alguns anos mais tarde, que a música pode ser tão exata quanto uma ciência, como a matemática. Pode ser, nem sempre é. Logo em seguida, com dezesseis anos, já tendo escutado muitos discos do irmão mais velho, coisas como Fátima Guedes, Bethãnia, Milton e Elis, além das porcarias enlatadas que aqui chegavam nas FMs no início dos oitenta, conheci os caras do ARMAGEDDON (Peter Dutra, Alexandre Terra, Cristiano Carvalho e Rodrigo Terra).

Eles estavam, veja só, com todo o equipamento da banda em uma casa na praia de Atlântida, ensaiando, coisa muito rara na época. Ouvindo aquele som todo resolvi entrar na garagem. Batemos um papo e em POA nos encontrávamos para ensaiar em uma casa a cem metros do Timbuka, na Zona Sul. Queriam que eu cantasse Xanadu e Stairway to Heaven, mas eu não sabia o que significava isso ainda...

Nesta época, quando conheci as grandes bandas de rock, em 85, várias bandinhas estavam nascendo no país e em Porto não seria diferente. Havia um plano econômico que se dizia bem sucedido e muito otimismo no Brasil. Na minha rua mesmo, a Castro Alves, ensaiava uma tal de Phoenix. O Armageddon, na verdade, tinha cinco músicas prontas, todas no estilo Iron Maiden e Judas Priest. Eram minhas primeiras letras.

E fez três apresentações, sendo a última a mais importante, pois tocou ao lado de PESADELO e LEVIAETHAN em um memorável show na Terreira da Tribo, show que aconteceu na mesma noite em que havia ASTAROTH na reitoria lançando seu primeiro disco. Esta noite ficou conhecida como a NOITE do METAL. rsrsrsr Rodrigo, guitarrista, entrou para a PANIC e a banda se desintegrou. A PANIC, da qual fazia parte também o guitarrista Eduardo Martinez, abriria o show do VENOM, que foi cancelado."


BANDAS E PARTICIPAÇÕES:

- Armageddon (1985)
- Primavera nos Dentes (1987)
- Os Ordinários (1995)
- "Agora Pode Ser o Tempo Todo" (1997) (acompanhando Egisto dal Santo)
- Sindicato do Blues ( considerada uma das melhores bandas do boom de blues de Porto Alegre em 1996)
- "A Mesma Coisa" (primeiro disco, em 2003).

DOWNLOAD:

(2003) A Mesma Coisa













01 - Quisera
02 - Frases Soltas Desconexas
03 - Histórias de Boi Dormir
04 - Para
05 - Novo Jeito de se Amar
06 - Luz em Blues
07 - Do Jeito Que Eu Quis
08 - Sapatos
09 - Tortura de Bolso





CONTATOS:

PORTOBLUES
MYSPACE

Pública - Casa Abandonada

Nei Van Sória - 40 Anos - Ao Vivo (DVD Audio)

Com grande prazer estou compartilhando com os amigos do DURANGO-95 um "disco", ou melhor, o audio exclusivo do DVD lançado no ano passado, e ainda inédito na internet, "40 Anos - Ao Vivo no Ocidente" do ícone Nei Van Sória.

Nesta gravação, Nei celebra seu aniversário de 40 anos com os fãs. São mais de 20 anos de carreira repassados numa noite memorável no berço do Rock gaúcho: o Bar Ocidente. O título é uma referência a idade e ao local onde tudo começou.

Com um repertório impecável dos seus 6 discos solos, o show tem a participação especial de seus amigo e parceiro das bandas TNT e Cascavelletes, Flávio Basso, também conhecido como Júpiter Maçã, em um reecontro histórico.

O DVD foi produzido em HD pela Farofa Filmes, com a assinatura do premiado diretor Alvaro Beck (Cannes Lions Festival).

Músico consagrado na cena gaúcha e fundador de duas das mais importantes bandas do Rock Gaúcho dos anos 80 (TNT e Os Cascavelletes), Nei Van Soria buscou a partir dos anos 90 novos caminhos musicais. Começou uma carreira solo. Desde então foram seis discos gravados: Avalon, Jardim Inglês, Cidade Grande, Só [ao vivo], O dia + Feliz da Minha Vida e Mundo Perfeito.

Você pode saber mais sobre Nei e baixar sua discografia aqui.

Faixas:

01 - Abertura
02 - Sobre o Amor
03 - A gente já chegou no céu
04 - O dia + feliz da minha vida
05 - Os Anjos
06 - Sonhos
07 - Velho amigo
08 - Ao seu redor
09 - Um dia ou dois | Mundo perfeito
10 - Monstro do armário
11 - Susie
12 - Só
13 - Eu vou ficar
14 - Isso inclui você
18 - Você e eu
19 - O tempo
20 - Jardim inglês

Direção: Alvaro Beck
Fotografia: Lúcio Kodato
Produção: Nei Van Soria
Produção Executiva: Vinicius Câmara Canto
Mixagem de Áudio: Vinicius Tonello
Design: Ângela Fayet
Foto da Capa: Eurico Salis
Gravadora: Good Music







Não perca, o DVD de Nei Van Soria pode ser adquirido através do site do cantor "www.neivansoria.com" .

Identidade - Antiguidades x Modernidades


“ANTIGUIDADES X MODERNIDADES” é o nome do terceiro álbum da banda IDENTIDADE. A banda que tem 10 anos de estrada e já rodou por todo o Brasil, figura entre as novas sensações do rock nacional. O grupo que já se apresentou em grandes Festivais do Brasil - Bananada (Goiás, 2008) Planeta Atlântida ( 2003, 2007, 2008, 2009) , Aniversario de 10 anos da Radio Pop Rock ( 2007 ) Aniversario 25 anos radio Ipanema ( 2008), Coca Cola PARC (2009) – Chega agora com um trabalho pra consolidar a carreia da banda. O álbum, apesar de caracterizar no próprio nome as influências da banda, que segundo Lucas Hanke, guitarrista, vão de Elvis a Kings of Leon, é o primeiro em que os músicos conseguiram fugir um pouco de um som que estampe tanto as influências, explorando vários elementos como naipe de metais, percussões ousadas, pianos e muitos riffs de guitarras. A sua formação atual é Lucas Hanke - guitarra, Eduardo Dolzan - bateria, Fernando Dametto - Baixo e Evandro Bitt vocal.

Depois de pouco mais de dois anos de espera após o lançamento de Jogo Sujo, o terceiro disco da Identidade saiu no primeiro semestre de 2009. Alcançaram algo mais próximo da cara da Identidade, de acordo com a percepção do próprio Lucas. “Gostamos de todos os heróis do rock assim como de bandas contemporâneas. Sempre fomos ligados nisso, um pé no passado outro no futuro. Mas este disco na verdade é Identidade, tipo nossa música, conseguimos chegar neste ponto que não é isto nem aquilo, é simplesmente Identidade”.

As letras em Antiguidades x Modernidades continuam falando de assuntos comuns no Rock n' Roll: amores, diversão, histórias de pessoas, cotidiano. Porém com algumas diferenças em comparação com os CD's anteriores. “No primeiro álbum éramos garotos com os hormônios estourando, compomos o Identidade Zero (2002, Stop Records) quanto tínhamos 16/17 anos, então tinha aquela parte ingênua do rock tanto de letras quanto de arranjos. Já com Jogo Sujo (2006, Good Music) começamos a mostrar mais a nossa “Identidade”, ainda tem algumas canções ingênuas, mas a maioria do disco já tem a nossa cara e o rumo que começamos a tomar”, recorda o guitarrista.Invariavelmente, como acontece com a maioria das bandas, o amadurecimento dos músicos reflete nas novas canções.

É um processo que Lucas considera importante e natural para bandas que pretendem se firmar. Ele mesmo relembra que Beatles e Stones traçaram um começo semelhante e foram amadurecendo aos poucos. Lucas acredita que neste disco a banda está muito mais madura e este é o maior diferencial de Antiguidaes x Modernidades. “Bom, agora o novo trabalho acho que vai ser um divisor de águas. Alguns fãs poderão torcer o nariz, mas sentimos que estamos fazendo nosso melhor disco, onde as pessoas vão sacar e dizer quando escutar as canções 'é Identidade tocando'”, enfatiza o guitarrista.

A banda segue o rumo da maioria dos músicos atualmente. Conquista fãs fidelizados através dos shows e com uma ajudinha da internet - em sites como My Space, por exemplo - sem que para isto precise se destacar na grande mídia.

Antiguidades x Modernidades é composto por dez faixas que foram gravadas no Estúdio Marquise 51, em Porto Alegre – o mesmo onde gravam Cartolas e Locomotores – e foi produzido por Ray-Z. O CD teve o lançamento junto com um documentário sobre sua gravação. Antes disso, saiu um single e um clipe da primeira música de trabalho. Quanto à expectativa da banda para a divulgação do Antiguidades x Modernidades, Lucas estima, confiante: “Esperamos tocar em todos os lugares e confirmar a Identidade como uma das bandas grandes do cenário rock. Não apenas como uma promessa”.

Texto: adaptado por Rr do original de Lisiane de Assis

Produção: Ray – Z
Gravado e mixado nos estúdios Marquise 51 por André Brasil e Davi Pacote
Masterização: Castilhos
Fotos: Roberto Hurtado
Arte: Mari Martinez
Figurino e make : Veludo Azul.
Direção executiva: Marquise51
Selo: Marquise 51

Faixas:

01 - Antiguidades X Modernidades (Eduardo Dolzan/Lucas Hanke)
02 - Não Para de Dançar (Lucas Hanke/Eduardo Dolzan)
03 - Me Leve a Estação (Lucas Hanke)
04 - Heroína de Plástico (Eduardo Dolzan/Lucas Hanke/F. Dametto)
05 - GROOVE (Eduardo Dolzan/Lucas Hanke)
06 - Pequenas Doses (Lucas Hanke/Eduardo Dolzan/F. Dametto)
07 - Só Agora eu Sei (F. Dametto/Evandro Bitt/E. Solano/Lucas Hanke)
08 - Vagabundo de Marca Maior (Lucas Hanke)
09 - Vícios (Lucas Hanke/E. Solano/F. Dametto)
10 - Dias Arrastados (Lucas Hanke)

Bebeco Garcia: O Garoto Cigano da Estrada

... Fiz esse texto que eu conto um pouco mais deste guitarrista maravilhoso que nos deixou que é Bebeco Garcia... Revisado hoje por mim e o Egisto, que corrigiu algumas informações e acrescentou outras, deixando o texto melhor! Tem uma foto alí que estamos na frente da Van que é tirada por Gustavo Alves e abaixo é do fotógrafo André Furtado!...

Frank Franklin


Já não é novidade para quem conhece e aprecia o bom e não tão velho assim rock’n’roll que infelizmente Bebeco Garcia faleceu ás 23 horas do dia dezenove de maio, em uma quarta feira, em um hospital particular de Porto Alegre. Resolvi escrever este texto para homenagear a este amigo que partiu cedo (é minha terceira matéria sobre ele fora a entrevista que fiz para a edição número um do programa de TV Portoblues, que não existe em arquivo), aos 56 anos, mas que mesmo assim deixou uma grande e maravilhosa obra musical.

São doze discos de uma música a qual só ele sabia a fórmula, pois só ele compunha e tocava daquele jeito. Se você prestar bem atenção, vai ver alguns floreios invertidos na guitarra. Vai notar sua pegada consistente (principalmente ao vivo), o som agressivo de suas Fender Telecaster, o som gordo das Gibson Flyng V e Thunderbird (também usou várias Stratocaster), e a técnica apuradíssima de seu lap steel (a popular guitarra havaiana, a qual tinha a rara habilidade de tocar em pé).

Vai degustar as belas letras, sempre em português claro e direto. Notará também a ausência de acordes em certas linhas de guitarra, e vai deparar com um roqueiro de visual classudo, pra lá de stoneano, e tudo mais o que tornou José Francisco Mello Garcia, Bebeco Garcia, o chefe, mais que um ídolo, uma referência para um monte de outros garotos de outras ruas de todo o país.


A FASE GAROTOS DA RUA: APARECE O FRONTMAN

Eu devia ter uns treze ou quatorze anos quando vi pela primeira vez aqueles caras, todos devidamente cabeludos e vestidos desleixadamente por gosto, tocando na SABA, na praia de Atlântida, litoral norte do RS, um verdadeiro acontecimento naquele verão. O show era junto com o Taranatiriça, que fazia um rock maravilhoso também, mas digamos assim, um pouco mais acelerado. Aquela tarde me marcou, foi meu primeiro show, aquela coisa toda de guri...já virei fã direto, era uma época em que quem sabia uma música do tal de rock gaúcho era um E.T. , e eu já me iniciei com rock verdadeiro. Ali estavam artistas de verdade, na minha frente, suando e fazendo rock de pau duro, como diria uma amiga do chefe e de meio mundo do rock gaucho, a nossa produtora artística Cida Pimentel, criadora desta feliz analogia.

Explico. Os Garotos da Rua, a banda da qual Bebeco era líder, foi o fundador e principal compositor, era foda! Uma puta banda de rock. Os Garotos da Rua (reza a lenda que antes de uma apresentação, quando alguém perguntou durante as primeiras reuniões -“que banda é essa ?” alguém respondeu: - “são os garotos da Rua Carlos Drummond de Andrade !”) originais surgidos em 1983 eram Bebeco, Edinho Galhardi (bateria) e Mitch Marini. Meses mais tarde entrou Ricardo Cordeiro, o King Jim (sax) e posteriormente Geraldo Freitas no baixo e um aluno de Bebeco, Justino Vasconcelos (guitarra).Desde o início a banda teve o apoio do letrista Carlos Caramez, parceiro de Bebeco em muitos hits. Era quase um sexto integrante.


Antes da formação da banda, Bebeco chegou várias vezes a fazer um som com Bixo da Seda, participar das Rodas de Som e gravar demos com Carlinhos Hartlieb, entrando na então ainda insípida cena musical portoalegrense. Bebeco gravou também no disco do Saracura. Como nasceu e cresceu sua adolescência na cidade portuária de Rio Grande, a mais antiga cidade do Rio Grande do Sul, provavelmente tenha conseguido bons discos de rock através das indas e vindas dos navios. Provavelmente em Porto Alegre não havia um guitarrista interessado em rock que tivesse os mesmos vinis que ele.

Poucos anos antes do contrato com a gravadora Plug BMG, que lança a coletânea histórica Rock Grande do Sul, na qual os Garotos da Rua participaram juntamente com os Engenheiros do Hawaii, TNT, Replicantes e DeFalla, a banda tocava quase diariamente no bar Rocket 88, no bairro Menino deus, o qual Carlos Weynrausch, o Mutuca, tinha inaugurado no início dos anos oitenta. Nesta coletânea, os Garotos foram lançados com as faixas Sozinho Outra Vez e Tô de Saco Cheio (Lá Em Casa Continuam Os Mesmos Problemas) *ambas parcerias Bebeco / Caramez.

Em 1984 a banda havia gravado solo pela primeira vez em um compacto as músicas Programa e Sabe o que acontece Comigo, em uma parceria da gravadora ACIT (que surgida em Caxias do Sul, se instalara nos antigos estúdios da ISAEC, em Porto Alegre. Já Rock Garagem, de 1985 que tinha dos Garotos a música Levaram Ele tornou-se um disco igualmente mitológico que hoje faz parte das discotecas básicas do rock brasileiro. Segundo palavras que o próprio Bebeco disse para este que vos escreve, Levaram Ele é sobre um maluco que apareceu para a banda querendo pagar tudo, arranjar shows milionários, emprestar os carros do pai para a banda - coisa não muito incomum no mundo do rock – e que até conseguiu seus objetivos, mas só até a família interná-lo em uma clínica psiquiátrica, para onde ele foi levado...


O primeiro disco, Garotos da Rua, emplacou Sabe o que Acontece Comigo e Você é tudo Que Eu Quero. O segundo LP, Dr.em Rock’n’Roll, trazia entre seus hits Eu Já Sei (É quando você volta / pela mesma porta !), que foi incluída como trilha do casal protagonista da novela Mandala, Jocasta (Vera Fischer) e Édipo (Felipe Camargo). A telenovela foi uma das de maior sucesso que a televisão brasileira já produziu. O disco vendeu muito, rendeu algum dinheiro para os autores das músicas do disco temático e uma projeção nacional para os Garotos da Rua. Foi neste momento que os Garotos da Rua começaram a se apresentar em rede nacional, participando do Programa do Chacrinha, Bolinha, Serginho Groissmann entre tantos outros programas da TV brasileira de grande audiência.

Os vinis Dr. em Rock’n’Roll e Não Basta Dizer Não ( que continha Meu Coração Não Suporta Mais) consolidaram a banda no mercado fonográfico brasileiro e renderam para a banda shows por todo o país. Este disco conta com a presença de Paulo Casarin (teclados). Os Garotos eram então uma das mais importantes bandas gaúchas, e estava colocada no primeiro escalão do rock nacional. Quando o estouro inicial amenizou e a banda mudou (Alemão, baixo e Cristiano Wash e King Jim como convidado), foi lançado o disco Garotos da Rua Ao Vivo, que contém uma versão clássica de Meu Coração Não Suporta Mais, que fez estrondoso sucesso na Rádio Ipanema FM (ouça no CD Ipanema FM – As 15 Mais) e virou um dos maiores clássicos do grupo. O disco ainda teve mais um grande sucesso: Acredita Em Mim.


A CARREIRA SOLO DO GUITARRISTA CIGANO

Quando Bebeco convidou Egisto Dal Santo, um de meus grandes amigos, a quem tenho grande apreço musical e afinidades no trato pessoal, para tocar baixo em sua nova banda, automaticamente tive o prazer em conhecer mais de perto Bebeco. Claro que nas primeiras vezes que eu o vi, evitei queimar o filme com encheção de saco do tipo fã mala mesmo que minha vontade fosse de encher o cara de perguntas tipo “eu fui naquele show da SABA, lembra daquele show na SABA?”. Fiquei na minha, me segurando nas primeiras vezes. Mas não demorei muito a perceber que estava diante de uma pessoa cuja humildade era proporcional ao talento.

Bebeco definitivamente não gostava de se posicionar em um altar como uma estrela intocável. Sabia que era uma referência, uma influência, um músico admirado, mas sempre se fazia acessível. Pude comprovar isto em 2002, quando pedi a ele que gravasse guitarra em uma música de meu disco A Mesma Coisa (sim, eu gravei um disco !), que saiu de modo extraoficial em 2003 sem uma grande tiragem. Para minha surpresa Quisera foi uma das músicas mais fáceis de gravar. Foi lá no estúdio do Vilson, o atual Music Box. E eu ainda cometi a gafe de querer ensinar a música para ele, que riu de mim, pediu para sacar a música em uma fita e me mandou ficar tranqüilo. No fim, a faixa Quisera saiu com a cara do Bebeco, uma guitarrinha ali sempre floreada e cheia de cor embelezando a melodia simplória de três ou quatro acordes que eu criei. Ele transformava acordes, atravessava intencionalmente o tempo, dividia os compassos de muitas maneiras.


Viajamos na van do Gustavo Alves algumas vezes juntos, incluindo uma tour pelo oeste catarinense organizada por Egisto que marcou a volta do guitarrista por aquelas plagas e foi cheia de histórias engraçadas e outras nem tanto...como a do quarto de hotel recusado por Bebeco, em Monte Carlo (não em Mônaco, né?) devido ao quarto “ter um cheiro forte de defunto”.O dono do hotel ficou puto mas trocou o quarto senão iríamos embora dali rapidinho.O chefe era assim. Exigente, minucioso com sua carreira e mandingas.

No oeste catarinense se concentra uma grande legião de fãs e Bebeco tocava em Chapecó, Joaçaba, São Miguel do Oeste, Concórdia, Montecarlo e Xanxerê e outras, todos os anos, sempre lotando as casas de show. Certa vez em Joaçaba, carregando equipamentos no backstage eu tropecei em um cabo, o que foi suficiente para desligar tudo, e a banda já estava no palco para tocar. Felizmente eu ainda estava em condições de avisar os operadores da casa e o problema foi resolvido!


COMO AMIGO UM BRINCALHÃO, COMO MÚSICO EXIGENTE E MINUCIOSO

Pai de quatro filhos, brincalhão, mas nunca debochado, simples mas refinado, classudo, Bebeco vivia sua música e era apaixonado pelos seus instrumentos. Gostava também de um bom “peixinho e um vinhozinho”, como ele mesmo pedia para comer e beber em noites de show. Metódico e minucioso na arte de compor, poderia demorar meses para escrever e reescrever uma canção. E nunca tocava as músicas do mesmo modo no palco. Adepto do improviso, próprio do mais puro rock and roll, admirava e bebia na fonte caudalosa do blues e suas vertentes. Era amante do blues, de boas leituras sobre música (conheci sua coleção de Rolling Stone Edição Brasileira e da Revista POP, bíblia dos jovens brasileiros dos anos 70) e das boas guitarras. Dominava o lap steel como ninguém.

Conheci o profissional Bebeco, o cara que não deixava encostar em nenhum de seus instrumentos (a lá Jeff Beck, que ameaçou agredir um repórter mais avançadinho que em uma entrevista fez menção de tocar uma de suas strato), o guitarrista que, em viagem, não admitia ficar um minuto longe de sua sacola azul de pedais: - “Baleia, cadê a sacola azul?”. No caso, eu era o Baleia (ah, Bebeco era um grande criador de apelidos, mas aí a coisa fica cabeluda e em outra oportunidae eu conto esta parte) e a sacola azul era aquelas mochilas antigas, de colégio, de carregar nas mãos, de um nylon bagaceiro, marca Tiger, sacam? Lotada de pedais vintage e outros nem tanto...


Egisto Dal Santo, de baixista escolhido para tocar virou seu melhor amigo na música e durante onze anos, de 1998 a 2009 foi uma espécie de manager, produtor artístico e musical, arranjador e empresário de Bebeco. Bem ao seu estilo, entrou de cabeça na carreira do guitarrista e, ao seu modo, virou um superbaixista que ainda por cima fazia de tudo para que a idéia do Bando dos Ciganos fosse adiante e vingasse. Em 1997 Bebeco tinha lançado Aleluia, Aleluia, seu primeiro disco solo, um CD independente, sob a alcunha de BB & Co, um disco que apesar de trazer a mesma qualidade de sempre, não marcou muito pela fraca exposição na mídia de um artista que estava se adaptando á carreira solo, independente. Mesmo assim nas rádios malditas (leia-se Ipanema FM, em Porto Alegre, e Fluminense, no Rio de Janeiro, Aleluia, Aleluia se tornou hit.

Bebeco sempre morou em vários lugares, era um cigano (ahá, viram?), gostava da estrada ao qual se acostumou, tinha casa no bairro de Santa Tereza, no Rio de Janeiro, a casa dos familiares em Rio Grande e uma espécie de QG na Rua Silveiro, no Menino Deus, Porto Alegre. E conquistou ao longo da estrada amigos que o hospedavam por todos os lugares. Atualmente morava em um apartamento na Ladeira da Conceição, em São Paulo, bem no centro da segunda maior megalópole do mundo.


A Coleção Hot 20, lançada em 1999, foi um sucesso em que a gravadora não apostava. Na verdade vendeu relativamente bem (cerca de 30 mil CDs cada banda, um bom número para a novidade deste material em CD) acabou por empurrar de volta para a cena as bandas que nela entraram, TNT, Replicantes, Engenheiros do Hawaii e De Falla, que voltaram para a estrada com o impulso. Com Bebeco não foi diferente pois as vendas da coletânea das melhores músicas dos três melhores discos dos Garotos da Rua colaboraram para que a carreira solo que se iniciava fosse melhor divulgada.

Quem nunca pôde comprar um LP dos Garotos agora tinha as melhores canções da fase band leader de Bebeco em um só CD. Foi neste momento que Bebeco, pela primeira vez produzido por Egisto Dal Santo, lançou quase que ao mesmo tempo Me Chamam Curto Circuíto, um disco pulsante e nervoso, que trazia um Bebeco renovado, a fim de assunto (como diria o grande baterista e impagável frasista Fabio Ly, que adotou acertadamente este nome descartando o Musklinho dos velhos tempos por sugestão do chefe Bebeco e influência de Egisto).

Me Chamam Curto Circuíto era um lançamento cheio de músicas contagiantes com sacadas bacanas e letras reveladoras da personalidade de Bebeco. O som do disco traz evidente a mão do produtor Egisto e a projeção sonora dos tempos dos primeiros álbuns dos Garotos da Rua, além da participação pela primeira vez do seu filho Pedro Garcia na bateria. Timbres maravilhosos e hits como A Vida é Dura Rapaz e Um Dia No Futuro e a avassaladora Me Chamam Curto Circuíto. O disco saiu pelo selo Top Cat, administrado pelo seu amigo e bluseiro Big Gilson, guitarrista da Big Allanbik, banda que marcou época no blues brasileiro.


A partir daí fazendo alguns shows mais seguidamente pela região sul do país (inclua Buenos Aires com o Teatro San Martín lotado aplaudindo de pé em um Domingo) e divulgando suas novas músicas e nova banda, agora como Bebeco Garcia & o Bando dos Ciganos, grava um disco ao vivo que certamente tem um dos melhores áudios dentre os discos de rock gravados assim no Brasil. O clima de comoção que impregnou o Teatro Bruno Kiefer naquela noite da gravação do CD Série Palco – Ao Vivo, em 2001, ficou evidenciado no registro da gravação, assim com o a brilhante performance da banda toda, que emocionou ainda mais o público resultando em um disco antológico, obrigatório, apesar da capa muito pouco criativa (disco de série) e nada a ver com a beleza do som do disco nela contido. O responsável pela operação da mesa naquela noite foi Mário Dal Santo, irmão de Egisto, igualmente fã de Bebeco e competente engenheiro de som, sempre ensinado pelo irmão mais velho.

Algum tempo depois houve uma mudança. O baterista oficial passou a ser o elegante Edinho Galhardi, o mesmo amigo e batera dos tempos dos Garotos, o Mounsier, como Bebeco fazia com que todos o chamassem. Edinho foi uma peça muito importante depois da saída de Fábio Ly do Bando dos Ciganos, mantendo o peso e a precisão de Fábio e acrescentando em entrosamento, por ter sido o baterista original dos Garotos da Rua. Fábio não teve desavenças maiores mas resolveu sair e foi tocar com Charles Master naquele momento.


Confidencial, lançado em 2003, é um disco cultuado pelos fãs, uma obra confessional e apaixonada onde Bebeco revela muito mais de si mesmo, tanto na música, como multinstrumentista, arranjador e produtor, quanto nas letras, cada vez mais francas, apaixonadas e diretas. O disco tem uma conotação diferente de todos os outros por ser totalmente caseiro, artesanal, gravado e mixado no aconchego do lar e da família. Quem tem este disco sabe do que estou falando, assim escrevendo é difícil transferir a coisa, entenderam? É neste disco que surge a parceria autoral com Egisto. Há mais de dez anos, então, que Bebeco só compunha sozinho.Além disso, Eu Sei que Você Sabe, só de Egisto, foi uma das poucas músicas de outros autores que Bebeco registrou.

Bebeco lançou pela última vez um disco em 2005, desta vez escancarando abertamente seu amor pelo blues (aqui cabe lembrar, ele não tinha nenhum preconceito musical, poderia gostar de Roy Buchanan tanto quanto de B. Negão ou música eletrônica. Era comum vê-lo usar camisetas de Bob Marley ou Ramones). Um disco de bluseiro, com solos maliciosos, uma capa condizente com a beleza do som gravado e de várias músicas que ainda vão tocar muito, como Paris Hotel, Beijo Guardado e Prefiro Não Acreditar (aliás, é o que estou sentindo desde o telefonema do Egisto e do velório, meu primeiro e último, pois prefiro lembrar do meu amigo sorrindo, fazendo piada e tocando. Bebeco foi enterrado com suas botas mais bonitas, bem vestido, elegante como ele, vaidoso, gostava de estar sempre). Just a rocker.


ÚLTIMO SHOW EM PORTO ALEGRE

Espero ter passado aquilo que sei a fim de complementar um pouco as informações que rolam pela mídia, incluindo este terreno inóspito ainda da internet, da blogosfera. Bebeco foi meu primeiro ídolo musical e nunca esperava um dia ser seu amigo, mas felizmente as coisas aconteceram mais ou menos assim como eu contei. Muitas vezes nos encontramos na casa do Egisto, nos estúdios, na minha casa, em viagens para shows onde eu auxiliava a troupe em troca de uns trocados, alguma comida e bebida e muita, muita diversão.

Certa vez falei para ele o que muitos gostariam de falar: - “Cara, se os Rolling Stones precisassem de um guitarrista para substituir Ron Wood ou Keith Richards, na minha opinião tu seria um grande substituto”. No Morrostock 2009 Bebeco foi destaque e fez a gurizada enlouquecer na lama, mas eu lamentavelmente não pude ir a Sapiranga.

Para seus filhos e familiares e amigos do peito deixo minhas condolências. O último dia que eu pude curtir a minha fanzice e o meu amigo foi em 15 de novembro de 2009. Era dia de show no bar Ocidente, com a formação paulista com Tuba, dos Feicheclaires, na Bateria, e com o baixista Joe Klenner, dono do Inferno, um pub do rock que fica na Rua Augusta, em São Paulo. De tarde o cara passou aqui em casa e me levou estava cheio de luzes daquelas porradas para a gravação de um DVD.


No final do show eu abracei e belisquei a bochecha do Bebeco, pela primeira e última vez, e lhe dei um abraço forte de parabéns. Naquele momento eu e as mais ou menos 120 pessoas que ali estavam tínhamos a certeza de ter presenciado algo mais, uma sublime apresentação de um verdadeiro frontman, um autêntico músico, um raro artista, em um legítimo show de rock.

Texto: Frank Franklin & Egisto Dal Santo
Fotos: Giovani Paim

 
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