Um garoto de 42 anos que ama os Beatles e o Roberto Carlos, é cultuado no underground dentro e fora de Porto Alegre e leciona História do Rock na universidade. Esse é o Frank Jorge que apresenta ao público seu novo disco solo, Volume 3.
Desde sua última investida fonográfica individual (Vida de Verdade, lançado em 2003), Frank viveu alguns dos anos mais agitados de sua trajetória. Trabalhou na Secretaria de Cultura de São Leopoldo entre 2005 e 2006, participou dos reencontros de duas de suas bandas – os Cascavelletes, em 2007, e a Graforreia Xilarmônica, novamente em atividade desde 2005 – e ajudou a criar o curso de Formação de Produtores e Músicos de Rock da Unisinos, no qual é um dos coordenadores e também professor de quatro disciplinas.
– Com essa experiência, eu vi como eu sabia pouco sobre o assunto – brinca o músico, sentado na sala de seu apartamento no Bom Fim, diante de uma estante cheia de CDs, livros, DVDs e LPs.
Contar histórias de seus ídolos para turmas de estudantes também ajudou Frank a compreender melhor suas próprias influências – evidentes na estante, em que Beatles e Roberto Carlos convivem com Reginaldo Rossi, Canned Heat e Belle and Sebastian, entre muitos outros. Isso contribuiu para que Volume 3 fosse um disco abertamente inspirado pela Jovem Guarda que sempre povoou o inconsciente e o repertório do compositor.
A sonoridade sessentista é a base do álbum, que tem espaço também para bolero e rock ramônico, como em "Alice". Explicar essa receita é a deixa para Frank Jorge se definir como um roqueiro autenticamente brasileiro – e soltar farpas para alguns representantes do rock nacional vigente, às quais estaria faltando brasilidade.
– Lixos como NX Zero e Charlie Brown Jr. parecem estar em outro país. Faço rock muito brasileiro, já toquei música de bailão no meio do meu show – define. – Se um jovem emo disser que é chinelão, fico feliz.
LUÍS BISSIGO
Frank Jorge Volume 3 é mais uma boa safra de canções colhidas pelo pândego compositor e multiinstrumentista gaúcho no campo e lavoura da existência durante os cinco anos que separam este seu novo disco do precedente Vida de Verdade. Praticidade e concisão são palavras chave no novo trabalho de Frank Jorge, mais de 20 anos dedicados ao rock. Qual um Paul McCartney redivivo, ele toca praticamente todos os instrumentos desse Volume 3, deixando baterias e percussões a cargo de Iuri Freiberger, co-produtor do disco junto com Rafael Ramos. As influências jovemguardianas/beatlemaníacas/sessentistas se espalham pelo disco como um todo.
Da arte da capa retrô-futurista que nos deixa vislumbrar um Frank Jorge trasmutado em George Jetson à enxutez das 12 canções - como num bom disco do Roberto ou dos Beatles - que raramente ultrapassam os 3 minutos dos clássicos singles dos anos 60, Volume 3 exibe um Frank Jorge capaz de lapidar canções que ao mesmo tempo em que mesclam influências musicais das mais variadas, abordam liricamente, temas como a maldita mania da "melhor banda do mundo essa semana" até uma insólita canção em que Frank lamenta ter demitido um amigo. Os antológicos órgãos Hammond salpicados por Frank pelas faixas desse Volume 3 são reminiscentes dos 60 mas estão mais para uma releitura à la Inspiral Carpets do que exatamente para Lafayette.
Em "Elvis", que apropriadamente abre o disco, Frank alfineta a necessidade contemporânea de se ouvir um som novo a cada dia. "Obsessão Anos 60" vai um pouco além do que o título anuncia e foca outras décadas, sempre com um espírito ácido e autocrítico, numa espécie de mea culpa desse revivalismo todo. Há canções de amor de todo tipo, algumas enviesadas e irônicas como "A Historiadora". Em "Eu Demiti Um Amigo", Frank deixa fluir tudo que aprendeu com Reginaldo Rossi e seus pares. E, maravilha das maravilhas, o encarte com as letras ainda traz comentários tipicamente frankjorgianos sobre as mesmas.
Todas reunidas, as canções de Volume 3 somam pouco mais de 33 minutos, que podem ser relacionados às 33 rotações e um terço dos LPs em vinil. O que pode parecer avareza ou sonegação de material musical, no entanto, se comprova como um disco na medida certa. Quando soam as últimas notas de "Se Você Ainda Me Quiser", a vontade é de virar o disco no prato e tocar o lado A pra rodar novamente. Ou melhor, dar o replay no CD.
De qualquer maneira, novamente aqui pontos para Frank Jorge que nesse Volume 3 coloca em prática o aforismo do escritor e musicólogo britânico Arthur Jacobs: "tudo é música, revista e ouvida pelos únicos olhos e ouvidos possíveis: os olhos e ouvidos do presente". Ah, sim: Volume 3 marca a estréia de Frank pela Monstro Discos. E está à venda nas boas lojas do ramo.
01 - Elvis
02 - Obsessão Anos 60
03 - A Historiadora
04 - A Imagem
05 - Pilhas de Livros
06 - Eu Demiti Um Amigo
07 - Não Pense Agora
08 - Não Sou Como Vocês
09 - Não Espero Mais Nada
10 - Alice
11 - O Que Sobrou do Mundo
12 - Se Você Ainda Me Quiser
5 comentários:
frank,
esse é "o" teu trabalho solo. tá bonito demais, tchê!!!!!!!!!
rafael.
O link já era... Seria pedir muito, repostá-lo?
O link está ativo e perfeito...
Vamos frequentar mais as aulinhas de inglês...
hehehehee
Abraço
Muito bom!!!
Adorei ... :) :) :)
Obrigado!!!
conseguiria repostar o álbum?
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